sábado, 5 de setembro de 2009

Noite




Caminho sobre as areias do deserto...

Anoitece e ainda se sente o ar ligeiramente abafado... em breve cairá a escuridão e o frio percorrerá todo o meu corpo...

Vejo-me à janela... do meu templo... do meu terraço... Será meu ou somente um local que me foi concedido, que me convidou a entrar?

A Vida é um mistério, talvez tenha adquirido o aspecto que lhe pertence...este local desconhecido, descentralizado do tempo, do espaço...

Apenas sei que é noite... e é tempo de contemplar... tudo... quem sou... que lugar ocupo...qual a presença de cada uma das coisas que aqui se encontram... terei de as arrumar, descobrir o seu verdadeiro lugar? Ou o seu lugar em mim?

No céu um Falcão, será Hórus, um sinal de que terei de ver com mais cuidado, com maior verdade?

Sonho ou Realidade? Importa?
Vivo-o, existe...

O seu recorte escuro contra o céu azulado, safira...

As estrelas, começam a pontear o meu Universo, a minha Visão, o meu Horizonte...

Cada novo olhar, uma nova presença...

Qual o mistério deste lugar? Qual o mistério em mim?
Conheço-me, sei quem sou, mas quero descobrir o que ainda não sei... muito do que sofro revela desconhecimento do meu ser....

Nada depende de outros, tudo depende de nós...
Somos nós quem dá presença à nossa existência... o Mundo já existia recebendo-nos... a nossa vinda, a forma como o sentimos anfitrião diz-nos algo... o que queremos, o que esperamos que nos seja dado...

E porque terá de nos ser dado o que quer que seja? Porque dele dependemos, porque somos parte de tudo... Como um só...

Desde o primeiro momento...

Se somos parte de uma lógica universal, de algo tão natural... assim como todos os seres teremos o nosso "encaixe" nesta dinâmica existêncial...

Essa é a grande descoberta... centrarmo-nos no que nos concederá esse ritmo interno eterno como tudo o que vive e não vive...

O nosso próprio som... timbre...

Aqui apenas contemplo... sinto-me natural, no meu lugar...
Aprenderei os passos da dança desenhada para mim... em tudo há uma obra...

Dotados de sentidos, eles serão a via... a resposta... nada de inebriação, confusão...
Ainda não aprendemos a aplicá-los segundo o verdadeiro fim para os quais existem...

Distraímo-nos tão facilmente... demasiados estímulos insignificantes...
Porque criamos estímulos sem importância e vivemos satisfeitos com tal criação/usufruição? Ou infelizes e derrotados pela capacidade de evoluir?

Esta porta...esta passagem para a verdade...

Um rasgo na realidade, como se fosse necessário que algo rompesse com a imperfeição e existisse uma caixa/uma cela da verdade para que possa ser contemplado o verdadeiro rosto da criação...

Neste pequeno espaço... todos os elementos da vida...

Uma forma limpa de ver em pequena escala o que existe camuflado e escondido por todo o fumo com que preenchemos a nossa existência...

2 comentários:

Anónimo disse...

Mergulhar nesse azul... e vir ter no teu "terraço", suspensa pela elevação que há nos teus questionamentos... mais importante do que se apossar das respostas: saber fazer as perguntas, como na filosofia...
Só sei que da parte da criação que te cabe, que fragmento lindo o todo ganhou!

O mundo te reservando o espaço para o contemplares tu, e ele a envaidecer-se da tua capacidade de "rasgar" realidades para tocar a beleza profunda e misteriosa do existir.

Lindo ler-te, menina...

Beijos, com pontinha de saudade no peito.

Katyuscia.

João Miguel disse...

Uaaaauuuuuuuu

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Lindo...

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